Escola de Segurança Multidimensional da USP divulga o 1º Levantamento Nacional sobre a Demanda de Bens e Serviços Ilícitos no Brasil
Texto: Daniela Echeverri Fierro
A Escola de Segurança Multidimensional (ESEM-IRI-USP) publicou, em 22 de outubro de 2025, o 1º Levantamento Nacional sobre a Demanda de Bens e Serviços Ilícitos no Brasil, desenvolvido em parceria com o instituto IPSOS Brasil. O estudo identificou que 24% dos brasileiros percebem as leis como arbitrárias e contrárias ao interesse coletivo, percepção que está diretamente associada à propensão ao consumo de bens ilícitos.
O Fórum Econômico Mundial estimou que o comércio ilegal movimenta cerca de 2,2 trilhões de dólares por ano na economia global, o que indica que existe uma demanda milionária de bens e serviços ilegais, constituindo uma oportunidade para o crime organizado, que passa a ofertar esses bens como meio de financiamento para suas atividades ilícitas.
O objetivo da pesquisa foi medir o tamanho e a dinâmica do consumo de produtos ilegais entre os brasileiros, mapear as atitudes e a tendência ao consumo de bens ilícitos e traçar o panorama do consumo ilegal em cinco segmentos: tabaco e nicotina, combustíveis, bebidas alcoólicas, equipamentos eletrônicos e itens de vestuário.
Segundo os resultados, 12% dos consumidores de bebidas alcoólicas indicaram que adquirem bebidas com vendedores informais, em regiões de fronteira ou em grupos de redes sociais; e, no setor de vestuário, 34% dos consumidores realizam compras em locais com maior risco de ilegalidade. No setor de eletrônicos, 21% das compras ocorrem em canais de alto risco, como redes sociais e vendedores informais nas ruas.
Nos combustíveis, embora 62% dos consumidores tenham a percepção de que os postos sem bandeira oferecem preços mais baixos, apenas 7% afirmam preferir abastecer nesses estabelecimentos. Dos consumidores que usam postos sem bandeira, 31% relatam ter tido problemas como falhas no motor, aumento no consumo de combustível e cheiro diferente no escapamento.
Para o setor de tabaco e nicotina, ainda que os cigarros eletrônicos sejam proibidos no Brasil, 55% dos consumidores dizem ter adquirido o produto em e-commerce e lojas físicas especializadas.
Quanto à disposição dos consumidores em adquirir produtos ilegais, a pesquisa constatou maior tendência no setor de vestuário (25%), seguido de bebidas alcoólicas (24%) e de combustíveis e eletrônicos (20%). Os cigarros eletrônicos, o tabaco aquecido e os sachês de nicotina apresentaram as menores taxas, com 12%, 5% e 3%, respectivamente.
Um dos grandes aportes da pesquisa é o entendimento da propensão ao consumo de bens ilegais em relação ao respeito pelas leis. A pesquisa constatou que, quanto mais o indivíduo internaliza a norma como um princípio importante para a vida social, menos propensão ele tem a consumir bens ilícitos. Já os indivíduos que percebem as leis como arbitrárias, sem relação com a justiça e voltadas à perpetuação do poder, têm mais tendência a consumir bens e serviços ilegais.
Para Leandro Piquet Carneiro, coordenador da pesquisa, “o resultado evidencia que precisamos prestar atenção à demanda, aos valores, aos comportamentos e às formas como as pessoas relativizam as leis”.
A apresentação da pesquisa ocorreu em um seminário realizado na Faculdade de Economia da USP, no Campus Butantã. Teve a participação de representantes dos setores de combustíveis, bebidas, vestuário e cigarros, além de representantes de instituições do poder público, como a Secretaria da Receita Federal, Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) , o Ministério Público e Fazenda de São Paulo.
“Não existe nenhum órgão de Estado que, sozinho, possua todas as competências constitucionais necessárias para combater o crime (...) a única maneira de conseguirmos dar conta do que está acontecendo hoje no Brasil é trabalhando no que eu chamo de uma forma matricial, ou seja, lado a lado, cada um com as suas competências, mas todos juntos, trabalhando e usando as suas ferramentas para atingir esse objetivo”, diz Márcia Meng, superintendente da Receita Federal em São Paulo.
A pesquisa de campo foi conduzida pelo Instituto IPSOS Brasil entre agosto e setembro de 2025 e contou com o apoio financeiro do programa PMI IMPACT, da Philip Morris International, que apoia projetos de instituições públicas, privadas e acadêmicas dedicadas à temática do comércio ilegal.
O levantamento utilizou uma amostra de 3.000 respondentes, representativa da população brasileira maior de idade, com margem de erro de 1,8%. A coleta de dados foi realizada em formato híbrido.
A partir deste ano, a Escola de Segurança Multidimensional passará a realizar pesquisas periódicas para avaliar o consumo de bens ilegais e servir como fonte de informação para os setores público e privado, além de fornecer subsídios para a formulação de políticas públicas e ações de prevenção e controle da infiltração do crime organizado nos setores produtivos.
Acesse o relatório completo na Biblioteca da ESEM: 1º Levantamento Nacional sobre a Demanda de Bens e Serviços Ilícitos no Brasil - ESEM-USP
Saiba mais na imprensa:
● CBN - Classes A e B são as que mais consomem produtos ilegais, conclui pesquisa da USP
● Estadão - Você aceitaria consumir bebidas e cigarros ilegais? Veja números de estudo inédito da USP
● Podcast Campo e Lavoura - A partir do minuto 24:18
Agenda climática do Brasil entre Bolsonaro e Lula: desafios analisados por Danielle Rached (IRI-USP) em co-autoria com Denise Vitale (UFBA)
Naviguer entre les divisions : les défis de l'agenda climatique du Brésil entre Bolsonaro et Lula. Bifurcation/s, v. n° 2, p. 71-81, 2025
(https://shs.cairn.info/revue-bifurcations-2025-1-page-71?lang=fr)
Danielle Rached (IRI-USP) em co-autoria com Denise Vitale (UFBA) examinam as contradições entre discurso e prática da política ambiental externa no 3º mandato de Lula.
Environmental Foreign Policy on Stage: Between Discourse and Reality in Lula's Third Term. BRAZILIAN POLITICAL SCIENCE REVIEW, v. 19, p. 1-33, 2025.
(https://brazilianpoliticalsciencereview.org/article/environmental-foreign-policy-on-stage-between-discourse-and-reality-in-lulas-third-term/)
O Fórum Permanente sobre Genocídio e Crimes contra a Humanidade, organizado em parceria com docentes da USP, acaba de resultar na publicação de uma importante obra coletiva: Genocídio e Crimes contra a Humanidade, lançada pela Editora Almedina.
O livro foi coordenado pelo professor Arthur Capella (IRI-USP), pelo professor Paulo Borba Casella (FD-USP) e pelo professor Felipe Nicolau Pimentel Alamino (GEPIM-USP), e reúne contribuições de pesquisadores e pesquisadoras que participaram do Fórum entre os anos de 2020 e 2022.
A obra apresenta reflexões sobre temas centrais da agenda do Fórum, como conflitos étnicos e religiosos, crimes sexuais de gênero, genocídio armênio, genocídio dos povos indígenas, genocídio do negro brasileiro, holocausto e negacionismo, entre outros.
Mais informações estão disponíveis no site da editora: Genocídio e Crimes contra a Humanidade – Almedina
Página 1 de 12